A autoridade do pregador
De acordo com os princípios bíblicos, o ato de falar ou pregar é muito importante, mas deve ser exercido com critérios rigorosos, de forma consciente e racional, caracterizando a autoridade do pregador sobre o assunto em discussão, a fim de que possa gerar nos ouvintes os efeitos desejados. A presente reflexão pretende trazer algumas luzes sobre os critérios da fala ora destacados, visando utilizar os mesmos para instrumentalizar a palavra da pregação, a fim de que ela possa cumprir o seu mister de produzir os pretendidos frutos de salvação àqueles que desejarem alcançar tais benefícios.
1. A fala consciente. A primeira regra para aquele que deseja pregar consiste em dominar o assunto. Esse é um princípio didático. Jesus destacou para Nicodemos que “nós dizemos o que sabemos” (Jo 3:11). Também criticou os saduceus por desejarem falar do que não sabiam, dizendo-lhes que eles erravam porque não conheciam “as Escrituras” (Mt 22:27). Judas, por seu turno, nos versículos 4 e 10 de sua epístola, faz um destaque especial para “certos indivíduos” que “difamam a tudo o que não entendem” e conclui que os tais “foram antecipadamente pronunciados” para a devida condenação, complementando que são “homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo”. Parece-nos que o mesmo se dava com os membros da igreja de Laodicéia (Ap 3:17).
O apóstolo Paulo, por sua vez, também traz orientações preciosas a respeito da importância do conhecimento das Escrituras para o pregador. Segundo ele, àqueles que “não se importaram de ter conhecimento de Deus, Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm”. A conclusão é que, se não faço caso da Palavra Divina, se não me preocupo com aquilo que falo, então Deus permite que eu me aprofunde cada vez mais no lamaçal da desinformação e me afaste cada vez mais dele, para que fiquem bem claro quem são os filhos da luz do conhecimento e quem são os filhos das trevas da ignorância.
Por outro lado, são dignas de serem decoradas as palavras que o apóstolo diz a Timóteo sobre a honra que o saber proporciona ao pregador e sobre a vergonha que o não saber acarreta. Diz ele: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a Palavra da Verdade” (2 Tm 2:15). E avançando nessa orientação pedagógica, diz ao seu discípulo para que permanecesse naquilo que já tinha aprendido e se inteirado, principalmente porque seus mentores eram pessoas dignas de confiança e tinham, portanto, autoridade para ensinar as “sagradas letras” que tornam o homem “sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus” (2 Tm 3:14-15).
2. A fala racional. É certo que existe o mundo dos homens e o mundo de Deus, as coisas visíveis e as invisíveis, os olhos materiais e os olhos da fé (Hb 11:1). Isso, todavia, não significa que, simplesmente, pelo fato de sermos crentes, devamos agir como se somente as coisas espirituais possam ter valor para nós. É fato que, se não formos capazes de entender as coisas terrenas, dificilmente seremos aptos para compreender as espirituais. Foi isso que Jesus disse para Nicodemos (Jo 3:12). É algo semelhante a isso que o apóstolo escreve a respeito do amor a Deus, quando chama de “mentiroso” àquele que diz amar a Deus, mas que odeia “a seu irmão”, pois, conclui que, se alguém “não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê” (1 Jo 4:20).
Outrossim, é de observar que Paulo conclama os crentes romanos a uma transformação da mente (Rm 12:1-2). Isso significa que a análise das coisas essenciais para a nossa vida requer uma melhor forma de apreensão. Elas exigem um comportamento racional, que seja guiado pela razão. Pedro, de igual forma, também faz esse chamamento aos seus interlocutores, ao dizer-lhes para desejarem “afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado” que leva ao crescimento (2 Pe 2:2). Também é de destacar nessa matéria, a crítica registrada em Hb 5:12 referente ao comportamento infantil e irracional de muitos crentes que, “devendo já ser mestres pelo tempo, ainda [necessitavam de ensino sobre] os primeiros rudimentos das palavras de Deus”.
Por último, é de observar o destaque que Paulo faz sobre o falar em língua desconhecida sem saber do que se está falando. Ele diz que isso não traz proveito para o crente (1 Co 14:14).
Nesse sentido, é de concluir que o entendimento lógico e racional é essencial não somente para a obtenção do que se deseja, mas principalmente para que o crente possa crescer espiritualmente.
3. A fala com autoridade. Todas as observações já feitas caminham para este ponto. Somente tem autoridade para falar sobre determinado assunto, aquele que tem conhecimento da matéria. Jesus nos deu o exemplo a ser seguido. Desde criança Ele procurou aprender as coisas que os mestres terrenos poderiam ensinar a alguém. Jesus esteve entre os doutores desse mundo, “ouvindo-os e interrogando-os” (Lc 2:43). Esse é um comportamento que se espera de cada crente. Ele disse: “aprendei de mim” (Mt 11:29). E ele era alguém que falava com autoridade (Lc 4:32).
Por último, destaca-se a orientação paulina a Tito, quando lhe manda falar, exortar e repreender “com toda a autoridade” (Tt 2:15).
Conclusão. O crente deve pregar o evangelho. Todo crente deve fazer isso. Não se requer um dom especial para essa tarefa. Todavia, é dever do crente buscar com zelo o dom de profetizar, para que pregue a palavra com entendimento e não envergonhe o evangelho (1 Co 14:39). Esse zelo implica estudo, pesquisa, oração, dedicação. Se não há conhecimento, se não há entendimento, então é melhor que o discípulo fique calado e que vá primeiro aprender para que não venha ser enquadrado como os saduceus (1 Co 14:28). Aliás, é no silêncio, apenas ouvindo, que muitos podem obter o conhecimento de que necessitam para se chegar à presença de Deus (Cf. 1 Tm 2:11; Rm 10:17; Tg 1:19).
Que o Altíssimo possa nos conceder graça para aprendermos a sua Palavra, a fim de que possamos transmiti-la àqueles que dela necessitam para alcançar a vida eterna (Jo 5:24).
IZAIAS RESPLANDES DE SOUSA é professor de Matemática, Pedagogo, acadêmico de Direito (9º. Semestre) da UNIC - Primavera do Leste (MT) e membro da Igreja Neotestamentária de Poxoréu, MT. Blog: www.respland.blogspot.com.
Prof Izaias Resplandes
Enviado por Prof Izaias Resplandes em 15/07/2008