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A conquista do mundo de Deus
Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? (Rm 11:33-34). Mesmo os mais sábios deste mundo têm fracassado, admitindo que a plenitude do saber é praticamente inacessível. Willian Shakespeare, famoso escritor inglês atribuiu a Hamlet, um de seus personagens, uma frase que eternizou esse reconhecimento. Disse ele: “Há muito mais coisas entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã filosofia”.
Isso, todavia, não significa que tal saber não deva ser perseguido pelo homem. Paulo de Tarso, escrevendo aos filipenses declarou: “Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus” (Fp 3:12).
É de destacar, ainda, a tristeza de Paulo em relação à falta de progresso no conhecimento por parte dos coríntios. Lamenta que eles ainda sejam crianças incapazes de digerirem um alimento mais sólido, um conhecimento mais profundo (1 Co 3:1-2). O mesmo se dá em relação aos hebreus. Segundo o autor, em face do tempo decorrido eles já deviam ser mestres. No entanto, ainda careciam de alguém para ensinar-lhes os princípios elementares dos oráculos de Deus (Hb 5:12).
Uma das condições para o crescimento é o domínio das regras do processo. É cediço que a aquisição de quase tudo nesta vida se dá de forma gradativa. Assim também ocorre em relação ao conhecimento. O saber mais, ou menos, tem uma relação direta com a aplicação que fazemos daquilo que temos aprendido (Dt 29:29; Fp 3:16; Tg 2:22). Deus não lança suas pérolas aos porcos, vez que nos orienta para agir dessa forma em sua Palavra (Mt 7:6). Ele não permitiria que soubéssemos mais do que aquilo que pudéssemos suportar, visto que daquele que mais recebe, muito mais será cobrado (Lc 12:48b). Tal permissão entraria em choque com a leveza do fardo divino, anunciada por Jesus (Mt 11:30). Ele também não permitiria que adquiríssemos o conhecimento de seus mistérios mais profundos para que apenas tivéssemos o gozo do saber ou para que deles fizéssemos uma utilização inadequada. É por isso que muitos daqueles que pensam saber, na verdade não sabem de nada. Nesse sentido estava certo Sócrates, o sábio grego, ao declarar enfaticamente: “tudo o que sei é que nada sei”. O conhecimento, como o próprio Deus, está tão perto de todos, mas ao mesmo tempo tão longe. Por isso é preciso saber a maneira certa de encontrar a um e ao outro (At 17:27).
A caminhada se dá com um passo de cada vez. A metodologia do crescimento é a utilizada pelo escriba e sacerdote Esdras: aprender, praticar e ensinar aos demais. Deus espera que sejamos multiplicadores de boas práticas e não de meras teorias (Ec 9:7; Ef 2:10; 2 Tm 3:17). O saber dissociado da prática não vale nada. “A fé sem obras é morta” (Tg 2:26). Todavia, sempre avançando, Deus espera que esquadrinhemos suas verdades e que o saber do homem se multiplique (Dn 12:4); espera que sejamos sábios e aptos para responder de forma adequada a todo aquele que O afronta (Pv 27:11; Mt 22:29; 2 Tm 2:15; 2 Pe 3:18).
É de saber que o Todo Poderoso não criou o mundo para que permanecesse incógnito, desconhecido. Pelo contrário, Ele deixou chaves para que os homens descobrissem, ao seu tempo, todos os mistérios envolvidos em sua criação e se utilizassem desse conhecimento em seu próprio benefício (Dt 29:29). Destaque-se que os primeiros verbos que Deus usa na sua comunicação com o homem são flexionados no modo imperativo. São ordens para fecundar, multiplicar, encher e sujeitar a terra, dominando sobre todos os animais que nela vivem (Gn 1:29). Está claramente evidenciado que o mundo de Adão não se limitava aos simples atos de cultivar e guardar o jardim edênico (Gn 2:15). Deus determinou claramente que o homem, palmo a palmo, conquistasse os segredos do mundo, tendo o Éden como ponto de partida. Uma descoberta levaria a outra, através de um efeito dominó, até que, de modo sempre crescente o homem completasse sua medida de saber (Gl 3:24; Fp 3:13-15; 2 Tm 4:7; 1 Jo 3:2).
Além disso, é de destacar que o conhecimento é sempre renovado. As palavras divinas são as mesmas, mas a aplicação vai se adequando aos novos tempos. Muitas das coisas que nossos pais aprenderam, hoje nós não precisamos mais. Não há um limite a ser esgotado, de forma que não se tenha mais o que aprender. Ninguém se forma completamente em conhecimento cristão. Estaremos sempre em formação. A conquista do mundo de Deus é algo processual que tem a duração de uma vida inteira. E esse mundo se renova de vida para vida (Sl 104:30), sendo o mundo de cada um diferente do mundo dos demais. Observe-se que, passados tantos séculos desde o início memorável, ainda não temos uma clara noção da amplitude dos conhecimentos guardados pelo Criador em favor do homem. Quanto mais se descobre, mais se verifica que há por descobrir. Além disso, é de ver que muitos dos segredos divinos não estão presentes no planeta Terra. Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos (Sl 19:1). O firmamento é o espaço sideral. A conquista da terra implica a conquista do espaço. O nosso planeta nada mais é do que uma das escalas do avanço humano no cumprimento do imperativo divino. É provável que tenhamos muitas outras escalas, pois é certo que Ele deseja para nós muito mais do que imaginamos. A Terra não é o nosso mundo – embora para alguns seja e talvez por isso se apeguem a ela com tanto ardor. Ela apenas faz parte dele. O nosso mundo, ainda a ser plenamente conquistado, é o mundo de Deus, os céus, se assim o desejarmos chamar (Jo 17:16; Fp 3:20). A conquista do mundo de Deus é a conquista dos céus.
Todavia, tudo começa no Éden. Há quem pense que os primeiros pais eram néscios e não sabiam de nada. Isso não é verdade. Eles eram puros, o que é bem diferente de ser ignorante. É possível que apenas não soubessem discernir entre o bem e o mal, principalmente porque não havia parâmetros para comparação. Tudo o que existia era muito bom (Gn 1:31; 2:17). Se o mundo fosse monocromático, se todas as cores fossem verdes, amarelas, azuis ou vermelhas, onde estaria o arco-íris? Somente é possível a comparação na multiplicidade, na policromia das cores e significados.
A árvore do conhecimento do bem e do mal não tem nada a ver com o conhecimento geral. Diz respeito apenas ao conhecimento específico referente ao discernimento entre o bem e o mal (Gn 2:17). Havia uma reserva divina em relação a esse nível do conhecimento. O homem, embora muito bom (em termos de criação), embora possuindo uma natureza divina naquele momento (porquanto nascido de Deus), não foi feito para ser Deus, mas para ser homem e, por conseguinte, não estava apto para a administração desse saber. Aliás, na hierarquia da criação, o homem está abaixo do Cristo (o filho do homem), o qual, por um pouco, foi feito menor que os anjos (Hb 2:7, 9). Existe uma gradação de autoridade. Paulo, escrevendo a respeito do assunto, diz: “Quero, entretanto, que saibais ser Cristo o cabeça de todo homem, e o homem, o cabeça da mulher, e Deus, o cabeça de Cristo” (1 Co 11:3). A escala é: Deus – Cristo – Homem. Quando Asafe escreve que os homens eram “deuses”, ele não queria dizer que cada um fosse Deus, mas que, sendo filhos do Deus Altíssimo, certamente seríamos deuses (Sl 82:6). É algo bem parecido com a história do “filho de peixe, peixe é” (Cf. O Homem Divino).
Por outro lado, é de destacar que certos saberes são exclusivos para o Pai (Mc 13:32; At 1:7). O conhecimento que possibilitaria o discernimento entre o bem e o mal era parte integrante dessa reserva exclusivamente divina. A falta de competência para administrar tal saber, com certeza levaria o homem à morte. Por isso o “certamente morrerás” dito por Deus. Infelizmente, o homem não acreditou nele. Pagou para ver. Desobedeceu a ordem do Criador, ultrapassou os limites e até hoje sofre as conseqüências daquele ato precipitado. Como já foi dito, o saber traz responsabilidades. Quanto mais se tem, mais se deve. Contrário senso, a ignorância é tolerada por Deus. Ele não leva em conta as coisas erradas que fazíamos pensando que estavam certas. (At 3:17; 17:30; 1 Tm 1:13; 1 Pe 1:14). Cada coisa tem o seu tempo certo (Ec 3:1). Devemos seguir o curso normal delas e ter a paciência de esperar a hora propícia para cada uma. Então, sim, devemos agir para que não sejamos considerados levianos e relaxados com a obra de Deus (Jr 48:10). É provável que até mesmo o mencionado discernimento viesse a se tornar acessível ao homem com o passar dos anos, quando adquirisse maturidade espiritual. Como se sabe, haverá um dia em que, de fato, seremos semelhantes a ele. Então, provavelmente, teremos esse domínio (1 Jo 3:2).
Enquanto isso, a Bíblia nos orienta para buscarmos crescer sempre (2 Pe 3:18). Nesse sentido, é possível que um dia todos possam se tornar mestres na Palavra e serem utilizados como tais, se Deus assim o desejar. Todavia, não passemos o carro adiante dos bois. O Senhor mesmo é o que escolhe e potencializa aquele que um dia será um mestre na Palavra (Ef 4:11). Contudo, o tornar-se efetivamente um mestre é algo que somente se dá com o tempo, através de estudos e experiências vividas. É de observar que, nos dias da criação, Adão era como um cristão novo convertido. Estava cheio de vontades. Tinha um enorme potencial para crescer. Mas, segundo a Bíblia, ele era apenas uma criança espiritual em condições de iniciar a conquista do mundo para o qual nasceu. Como tal, era ainda muito puro e inocente em relação às profundidades do conhecimento. Para crescer, necessitava de nutrimento condizente à sua condição. Veja-se que ele sequer havia aprendido a se vestir. Faltava-lhe autonomia mesmo para pequenas necessidades como essa. Ao se descobrir nu, sentiu-se envergonhado para estar diante de Deus em tal estado, mas não soube como agir, sendo necessário que o próprio Criador lhe providenciasse as vestimentas (Gn 3:21).
Quantas vezes não estivemos nós em situação semelhante, defrontando-nos com problemas aparentemente tão simples, aos quais não sabíamos dar as respostas? Quantas vezes não nos socorremos dos achismos? Quantas vezes envergonhamos o nosso Senhor ao nos passar por donos de um mundo que ainda não conquistamos? Muitas e muitas vezes! Isso, porém, é algo normal, que soe acontecer com todos os crentes no início da carreira, quando se prefere achar tudo ao invés de assumir a condição de criança espiritual que ainda não sabe quase nada. O que é anormal e muito triste é a existência dessa situação depois de anos e anos de “carreira” sem ter saído do lugar. Infelizmente, sabemos que uma pessoa nessa condição não receberá o bem-vindo de Jesus quando chegar o dia da vitória, em face de haver enterrado o seu talento potencial para a conquista de novas fronteiras para o Seu domínio (Mt 25:24-25). Segundo a Bíblia, esse alegre brado estará reservado apenas para aqueles que não medirem esforços, que não encruzarem os braços e perseverarem conquistadores, trabalhando arduamente até o fim (Pv 24:33; Mt 24:13; Gl 5:7; Ap 2:4-5).
Que esses sejam os ideais embutidos em nossos planos de batalha. Que saibamos seguir as regras que os verdadeiros heróis da fé nos legaram como exemplos de como o mundo de Deus pode ser conquistado por cada um. E assim, que possamos amar e lutar de forma ilimitada pela expansão das fronteiras de nosso mundo espiritual. Conte cada um com o seu companheiro e sempre conosco, em particular. “Para vós outros, [queridos irmãos], abrem-se os nossos lábios, e alarga-se o nosso coração. Não tendes limites em nós” (2 Co 6:11-12).
Vitória! O mundo de Deus aguarda ardentemente que nós o conquistemos.

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IZAIAS RESPLANDES DE SOUSA é professor de Matemática, Pedagogo, acadêmico de Direito (9º. Semestre) da UNIC - Primavera do Leste (MT) e membro da Igreja Neotestamentária de Poxoréu, MT. Blog: www.respland.blogspot.com. Fundador e membro da UPE – União Poxorense de Escritores, Poxoréu, MT.
Prof Izaias Resplandes
Enviado por Prof Izaias Resplandes em 18/07/2008
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