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As potencialidades do crente
Ser perfeito. Esse foi o desejo de Deus quando criou o homem “muito bom” (Gn 1:31). Todavia, o “muito bom” não é sinônimo de definitivo, pronto e acabado. Mas traz o sentido de que, no devir, esse homem poderá ser aperfeiçoado até atingir o seu clímax – ser de fato semelhante a Deus (Gn 1:26). O homem não foi criado como um ser perfeito, mas como potencialmente perfeito. Isso quer dizer que ainda não era tudo o que poderia ser, mas possuía a capacidade de, no tempo de sua vida, crescer e se desenvolver até atingir esse grau de maturidade espiritual. O Éden foi o período da infância do homem. Adão e Eva eram crianças. Estavam começando a descobrir o mundo que Deus criara e a respeito do qual receberam o “dominai” (Gn 1:28), a ordem divina para conquistar.
É de observar que ao homem criado e posto no Jardim do Éden, cabia a obrigação de laborar para obter o seu sustento. Nesse sentido, embora “muito bom”, pode-se vê-lo como um ser imperfeito, uma vez que ainda tinha que fazer alguma coisa para sobreviver. Apesar das árvores frutíferas e dos animais estarem ali à sua disposição, precisavam ser dominados e cultivados para lhe servir de sustento (Gn 1:28-30; 2:15). É importante percebermos isso para que possamos compreender porque não havia a necessidade de que Deus desse tudo de mão beijada para o homem. É de ver que Ele o criara um ser com capacidade de dominar e transformar o mundo, que também era dinâmico, conforme as necessidades de seu dia-a-dia. Nesse sentido, pode-se dizer que o homem fosse um ser perfeito, um que se adapta maravilhosamente às circunstâncias. É provável que esse seja o sentido empregado por Paulo, na carta aos filipenses, quando diz que “somos perfeitos” (Fp 3:15).
Destarte, somos seres imperfeitos, mas com potencialidade para atingir a perfeição. Esta se dará no tempo de vida do homem, começando nos primórdios da infância e indo até o fim da maturidade, período em que crescerá e se desenvolverá espiritualmente. “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro. Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor” (Ef 4:11-16).
O pecado, desde os tempos do Éden, tem estragado bastante a obra de Deus, mas na essência, o homem continua tendo em si o potencial divino para a perfeição – o alvo a ser atingido por todos. Mesmo porque, é de observar, Deus nunca abandonou a sua criação. Como é sabido foi Ele mesmo quem planejou a salvação do homem das conseqüências de seus atos pecaminosos. Ele “nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele. Para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade” (Ef 1:4-5).
Ser potencialmente perfeito não significa que não possamos errar, cair ou afastar de Deus. O livre arbítrio nos coloca frente a todas essas possibilidades. Ele nos permite escolher o que queremos e, ao fazer isso, poderemos escolher mal. O bonito de tudo isso é que nós temos a capacidade intrínseca de corrigir o percurso, de levantar e de voltar novamente para os braços de Deus, para o refúgio da sombra de suas asas (Ez 18:20-23: Sl 91; 1Jo 2:1).
Em geral se erra porque não se conhece. O erro deliberado é a exceção. Jesus disse que os saduceus erravam, porque não conheciam as Escrituras e nem o poder de Deus (Mt 22:29). O conhecimento ilumina o caminho. É incompreensível que alguém, vendo o caminho certo, com toda clareza, mesmo assim insista em ir pelo caminho errado. Para esse tal não há remédio salvador. Nós, às vezes erramos querendo acertar. Este erra simplesmente porque quer errar. O autor de Hebreus fala dessas pessoas que erram deliberadamente (Hb 10:26). Pedro também (2 Pe 3:5). E quantas pessoas nós conhecemos que agem assim! E sabemos que é triste o seu destino (Hb 10:29-31). Infelizmente, para esses, se não voltarem ao caminho, não há salvação.
Como visto no texto de Ef 4:11-16, o objetivo do desenvolvimento das potencialidades do crente é a “unidade da fé, o conhecimento do Filho de Deus e o ser um homem perfeito”. Isso não é algo que acontece da noite para o dia, como que por explosão. O processo se dá por meio da evolução. “Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus. Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3:12-14). Terá, portanto, a duração de uma vida. Exige muita dedicação, persistência e disciplina.
É de destacar que o reino dos céus é o “prêmio da soberana vocação”. Para conquistá-lo, há que se empreender esforço e muita vontade, pois “desde os dias de João Batista até agora, o reino dos céus é tomado por esforço, e [somente] os que se esforçam se apoderam dele” (Mt 11:12).
É muito importante que compreendamos isso. Porque há muitos irmãos, preciosos para Deus, que estão parados. Não fazem nada, nem mesmo aquilo que devem fazer todo dia, como cuidar de si mesmos. É de lembrar a recomendação de Paulo a Timóteo, para que “tivesse cuidado dele mesmo e da doutrina” (1 Tm 4:16). Aceitar Jesus, comparecer às reuniões da igreja, contribuir financeiramente e coisas assim são atitudes necessárias. Todo crente deve fazer isso. Mas não é o suficiente para apoiar “aqueles que pensam estar de pé” porque fazem essas coisas. Paulo nos alerta no sentido de que tenhamos cuidado para não cair (1 Co 10:12). De forma análoga à situação prevista em 1 Co 9:16, nós não temos nenhum motivo para contar vantagens, se apenas praticamos as coisas elementares da vida cristã. Aproveitando as palavras de Jesus, quando observou que os fariseus faziam pequenas coisas e deixavam de lado as mais importantes, também nesse caso podemos dizer a cada um: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas!” (Mt 23:23)
É preciso avançar. É preciso progredir (1 Tm 4:15). É preciso ir além dos princípios e crescer. É o que nos ensina a Palavra de Deus: “Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes, novamente, necessidade de alguém que vos ensine, de novo, quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus; assim, vos tornastes como necessitados de leite e não de alimento sólido” (Hb 5:12). “Por isso, pondo de parte os princípios elementares da doutrina de Cristo, deixemo-nos levar para o que é perfeito, não lançando, de novo, a base do arrependimento de obras mortas e da fé em Deus”.
É quase certo que muitos “crentes” serão rejeitados no dia do Senhor, simplesmente porque não entenderam o seu papel na história da Igreja, ou porque entenderam, mas se fizeram de desentendidos para não assumir responsabilidades. Tenhamos isso em conta. “Vós, pois, amados, prevenidos como estais de antemão, acautelai-vos; não suceda que, arrastados pelo erro desses insubordinados, descaiais da vossa própria firmeza; antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno” (2 Pe 3:17-18). Saiamos do comodismo e do marasma. Que Deus nos abençoe para que possamos ser e fazer amanhã, muito mais do que conseguimos no dia de hoje. Isso é desenvolver nossas potencialidades espirituais.
Prof Izaias Resplandes
Enviado por Prof Izaias Resplandes em 21/07/2008
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