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O salário do obreiro
Trabalhar e ser remunerado. Esse é um princípio milenar, consagrado tanto na Bíblia, quanto no Direito Brasileiro. Somente os escravos não são remunerados. E nesse particular, é de registrar que desde 13 de maio de 1888, está “abolida a escravidão no Brasil”, conforme a Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel de Bragança.
Em que pese a Bíblia ser bastante clara a respeito dessa temática, a comunidade neotestamentária tem optado por se manter distanciada desse assunto, evitando colocá-lo em prática nas diversas igrejas locais. O mesmo não acontece, todavia, do ponto de vista teórico. Nossos mestres têm explorado o tema com muita propriedade.
É de destacar, por exemplo, o ensino produzido pelo memorável neotestamentário Benjamin G. Fay, na obra Estudos Bíblicos, volume II, pág. 19, editado pela UMNT, em 1997, intitulado “Um direito não usado”, no qual o autor traça os fundamentos bíblicos para essa questão. Para que possamos nos posicionar adequadamente sobre o tema, reputamos de importância capital que todos façamos também uma revisão naquele estudo. Afinal, não é de bom alvitre que venhamos emitir opiniões superficiais nem sobre esse, nem sobre qualquer outro assunto, haja vista exercermos influência direta sobre as demais pessoas. Não podemos permitir que os nossos interlocutores percam a confiança em nós, em face de comportamentos tais.  O ensino Paulino nos mostra que “algumas pessoas, desviando-se destas coisas, perderam-se em loquacidade frívola, pretendendo passar por mestres da lei, não compreendendo, todavia, nem o que dizem, nem os assuntos sobre os quais fazem ousadas asseverações” (1 Tm 1:6-7). Nesse, ou em qualquer outro assunto, sobressaem as recomendações de Jesus aos saduceus: “errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus” (Mt 22:29), de Paulo a Timóteo: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Tm 2:15) e ainda o que se diz dos bereanos, os quais “receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim” (At 17:11).
A natureza humana se divide em querer ser diferente ou querer ser igual aos demais. A Palavra nos ensina a quem nós devemos ou não imitar. Vejamos alguns textos bíblicos nesse sentido: 1) Negativos: Não sejais como vossos pais e como vossos irmãos, que prevaricaram contra o SENHOR, Deus de seus pais, pelo que os entregou à desolação, como estais vendo (2 Cr 30:7). Não sejais como o cavalo ou a mula, sem entendimento, os quais com freios e cabrestos são dominados; de outra sorte não te obedecem (Sl 32:9). Não sejais como vossos pais, a quem clamavam os primeiros profetas, dizendo: Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Convertei-vos, agora, dos vossos maus caminhos e das vossas más obras; mas não ouviram, nem me atenderam, diz o SENHOR (Zc 1:4). 2) Positivos: Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo (1 Co 11:1). Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados (Ef 5:1). Irmãos, sede imitadores meus e observai os que andam segundo o modelo que tendes em nós (Fp 3:17). Não vos torneis indolentes, mas imitadores daqueles que, pela fé e pela longanimidade, herdam as promessas (Hb 6:12).
Eis um bom caminho.
Por outro lado, é de observar o que se diz por aí: que é muito fácil ser pedra, mas é muito difícil ser vidraça. Não sei se o motivo que levou nossas igrejas locais a não remunerar seus obreiros foi o afã de ser diferente daqueles que exploravam a boa-fé dos irmãos e buscavam tirar proveito da situação de necessitados espirituais em que se encontravam. “Deus o sabe” (2 Co 11:11).
É de lembrar que durante muitos anos evitamos falar em “dízimos”, porque havia um abuso em termos práticos por parte das denominações em torno da questão e não queríamos ser incluídos entre os que abusavam e, evidentemente sermos também criticados. Então não falávamos de dízimos. Por conta dessa omissão, nossos missionários padeciam necessidades no campo, enquanto as congregações não tinham dinheiro sequer para pagar as contas de água e luz do local. Saímos de um extremo e fomos para o outro. E isso sempre traz conseqüências muito danosas. A orientação bíblica é para a ponderação. Não devemos fugir da questão, mas agir com cautela. Porque Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação (2 Tm 1:7). Como Deus tem nos abençoado em relação aos dízimos! Poucos discutem, poucos criticam, porque a verdade é que quase todos vêem como muito natural a renúncia parcial de seus direitos para que possam viver em comunidade e ser por ela protegidos. É claro que ainda existem aqueles que preferem a marginalidade. Para tais resta ensinar até que aprendam e passem também a imitar a boa prática dos demais.
Talvez o motivo que tenha nos afastado de remunerar adequadamente aqueles que trabalham em nosso benefício espiritual, tenha sido a falta de dinheiro. Então o problema atual seria uma conseqüência negativa da nossa omissão em relação aos dízimos. Não tínhamos recursos porque não entregávamos os dízimos requeridos pelo Senhor.
Assim diz a Palavra: Trazei todos os dízimos à casa do Tesouro, para que haja mantimento na minha casa (Ml 3:10). Nossos obreiros não podem se dedicar plenamente ao trabalho espiritual. Necessitam trabalhar fora, em casas estranhas ao serviço, para garantir o seu sustento e o de sua família, porque não há “mantimento na Casa de Deus”, porque ali nós não levamos os nossos dízimos.
Motivos, motivos, motivos.... Talvez fosse isso, talvez fosse aquilo, talvez fosse aquilo outro. Não importa o motivo que nos impulsionou no passado a agir desta ou daquela forma.  “Esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3:13-14).  Passado é passado e se for de coisa errada, deve ser apagado. O que importa é o daqui para frente.
Muitos de nossos obreiros podem se dedicar ao ministério como Paulo, porque não dependem de apoio financeiro de ninguém. São autônomos. Outros, porém (aqui talvez esteja a grande maioria), estão parcialmente inativos, produzindo pouco porque não têm esse apoio tão necessário. E nós, o que fazemos enquanto isso? Um compositor brasileiro responde em nosso lugar: “Isso tudo acontecendo e eu aqui na praça, dando milho aos pombos...”
Concluindo (pelo menos nesse momento), é de enfatizar que a decisão de remunerar ou não os obreiros do Senhor é de cada comunidade. O que se defende é o direito de liberdade para aqueles que assim decidirem favoravelmente. Que tais irmãos não venham ser considerados maus neotestamentários pelo fato de se preocuparem com o sustento material daqueles que lhes prestam serviços espirituais. E, de igual forma, que também haja respeito, consideração e amor por aqueles que pensarem de outra maneira. E a todos, os favoráveis e os contrários, digo que “o intuito da presente admoestação visa o amor que procede de coração puro e de consciência boa e de fé sem hipocrisia” (1 Tm 1:5).
Que o Senhor esclareça melhor esse assunto em nossos corações.
Prof Izaias Resplandes
Enviado por Prof Izaias Resplandes em 27/07/2008
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