A redescoberta do Brasil
Já se foram 502 anos da chegada dos portugueses em nosso país. Com certeza, no 22 de abril de 2002 não tivemos a homérica comemoração dos 500 anos de 2000, mas de qualquer forma é mais um ano que se passa e que, para a grande maioria de nós, continua não significando nada em termos de redescobrimento de nossa pátria. Para o povo brasileiro, o Brasil continua sendo um mundo para se conhecer, haja vista que dele conhecemos muito pouco, tanto que muita gente só o conhece pelo apelido Brasil, apesar dele possuir nome e sobrenome: República Federativa do Brasil.
Mas como conhecer um Brasil continental de 8.511.965 km2 de território, quando a maioria de nós brasileiros vive em estado de pobreza e de miséria e não pode viajar sequer até a cidade visinha? Isso é uma tarefa que pode parecer bastante difícil, mas não é impossível. Vejamos os porquês:
Primeiro: ninguém conhece o Brasil inteiro, tim-tim por tim-tim. Segundo: qualquer tarefa que formos realizar, deve ter um começo.
Pois bem, a tarefa da redescoberta do Brasil por nós, brasileiros que aqui nascemos, deve “começar do começo”. Nós sempre somos tentados a começá-la do meio, ou mesmo pelo fim. Então você me pergunta: mas onde é o começo?
O começo do nosso Brasil, como o começo de qualquer coisa é diferente para cada pessoa. É algo particular. O meu Brasil começa exatamente onde eu vivo, por isso quando me perguntam onde eu moro, eu digo com todas as letras: “eu moro no Brasil!” E quando me redargúem sobre qual lugar do Brasil eu moro, respondo com a boca cheia: “eu moro em Poxoréo!” Aí muita gente me diz: “Ah, mas então você mora no fim do mundo!”
Viu que confusão. Aliás, a Física do competente Prof. Ubaldo Tolentino, da UFMT já nos deixa bastante claro que essa questão de começo e fim, de longe e perto, de parado e em movimento é algo que depende de um ponto referencial. E no caso em questão, o ponto de referência para o redescobrimento do Brasil é o lugar onde eu moro e que, por ser o lugar mais perto de mim é então o começo do meu país.
Aula à parte, porque até parece que estou em sala de aula e isso é mal de professor, me desculpem por ser um pedagogo, devemos começar a conhecer o nosso país pelo lugar onde nós escolhemos para morar. Partindo daí nós teremos a oportunidade de interferir na melhoria e no desenvolvimento da nossa região, posto que a nossa colaboração em alguma coisa só é possível de se realizar se nós tivermos conhecimento de causa. É praticamente impossível colaborar sem ter um mínimo de conhecimento. Vou dar um exemplo.
Faz 25 anos que eu pisei em Poxoréo pela primeira vez. Nesse tempo todo tenho procurado conhecer os problemas dessa terra, para poder contribuir de alguma maneira com o seu desenvolvimento. Dentre as minhas contribuições creio que a mais importante foi a da fundação da União Poxorense de Escritores (UPE), hoje presidida pelo cientista político, pedagogo e historiador Gaudêncio Filho Rosa de Amorim, na qual juntamente com os demais membros da entidade, temos tentado resgatar e registrar para a posteridade os feitos e desfeitos do povo de Poxoréo. Isso tem sido dez! Mas dia 21 de abril, aniversário da Capital do Brasil, fiz algo que valeria pelo menos dez e meio: saí de minha casa em Poxoréo e subi a 800 metros acima do nível do mar. Em companhia do Émerson Pinto e de meus filhos Fernando, Ricardo e Mariza (aquela de “O dia da Mariza”, publicação de A Gazeta, do dia 13/04/2000, pág. 3A), subimos ao topo do “Morro da Mesa”.
Ah, meu amigo, que canseira! Quando cheguei em casa eu estava moído de cansaço, mas feliz da vida. Eu conhecia aquele morro de longe. Sabia que seu cume tinha o formato de uma mesa e daí o seu nome “Morro da Mesa”, que estava a 350 metros de altitude acima de Poxoréo e a 800 do nível do mar, que seu primeiro nome, ainda dado pelos bororos coroados era kurugugwári (que quer dizer Casa do Gavião Penacho ou Caracaraí), e outras tantas informações que aprendi com o historiador Jurandir da Cruz Xavier (também membro da UPE), mas não conhecia o principal: os caminhos do Morro da Mesa. Eu nunca havia subido ao seu topo. E quem nunca fez isso, não conhece toda a beleza daquela construção divina. E, infelizmente essa é uma daquelas experiências que não dá para descrever. Cada pessoa vai ter uma emoção e sensações diferentes. No topo do Morro da Mesa pode-se ter tudo o que imaginarmos e pode não ter nada mais do que uma vegetação rasteira típica dos campos e cerrados mato-grossenses. Tudo é uma questão de sensibilidade e identificação.
Do alto do Morro da Mesa eu pude ver a grandeza do Criador e a pequenez do homem que deseja ser grande, mas que é tão pequeno quando visto lá de cima. A paisagem que se descortina para o aventureiro é majestosa. São quilômetros que ficam sob nossas vistas, cortados por vários riachos sinuosos e cercados por uma cadeia de montanhas. É uma planície linda de se ver. Além disso, há diversas espécies de aves que vivem no topete daquele morro, em total liberdade, cantando alegremente, inclusive o gavião caracaraí. Passamos a tarde lá em cima e quando iniciávamos a descida, presenciamos um espetáculo inebriante: centenas de andorinhas que não sei de onde saíram, voaram, voaram e cantaram sobre nossas cabeças numa alegria inexplicável. Foi o coroamento da nossa aventura. Abri os braços para os céus e dei graças a Deus por aquele presente que o Brasil nos dava.
E foi assim que, no aniversário dos 502 anos do redescobrimento do Brasil, tivemos a oportunidade de a partir de nosso lar em Poxoréo, conhecer mais um pedacinho do Brasil, o qual está esperando que você também venha conhecê-lo. Te garanto que a redescoberta do Brasil, com toda certeza, começa aqui em Poxoréo, com essa aventura que é pura adrenalina. Te aguardo!
Izaias Resplandes de Sousa é pedagogo, gerente de cidades e acadêmico de Matemática da UFMT em Primavera do Leste, MT. E-mail: respland@uol.com.br . Home Page: www.poxoreu.cjb.net .
Prof Izaias Resplandes
Enviado por Prof Izaias Resplandes em 14/08/2008