Literatura de Izaias Resplandes
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Festa de formatura
A história é feita de círculos concêntricos, já dizia o escritor italiano Nicolau Maquiavel, autor de “O Príncipe”, um dos livros mais lidos em todos os tempos. Seguindo essa trajetória, temos visto, ultimamente, o retorno de muitos eventos que pareciam estar fora de época, com destaque para as festas de formatura do ensino médio, cada vez mais glamourosas. Elas vinham desaparecendo, desde a suspensão dos cursos profissionalizantes nas escolas públicas estaduais de Mato Grosso. É certo que, em raríssimas exceções, em que se demonstrasse, por meio de projetos circunstanciados, a sua extrema necessidade para a comunidade, tais cursos ainda poderiam ser realizados. Assim aprendi ao fazer a lição que me passaram para casa.
Mas não estou aqui para condenar o fim dos cursos profissionalizantes. Creio que eles tiveram o seu momento de glória – o tecnicismo – e que esse, efetivamente, já passou. Por isso é perfeitamente justificável a interrupção de tais projetos. Àquela época, faltava mão-de-obra especializada. Então, a Escola do Sistema Dominante deveria prover as lacunas, formando o pessoal, em função da realidade vivida. E assim, como eram muitas as necessidades, todos os anos as escolas secundárias colocavam dezenas de “formandos” à disposição do mercado. Não sem antes fazerem belas festas de formatura, ao estilo daquelas que se verificam nas universidades, com direito a baile, coquetel, passeio e tudo o que fosse possível.
Tive o prazer de me “formar” duas vezes no segundo grau e, evidentemente, participar de duas festas maravilhosas: uma, quando concluí o Magistério, em 1984 e outra, dez anos depois, quando concluí o curso de Estudos Adicionais em Alfabetização (uma espécie de 4º ano de Magistério), em 1994. De que me recordo, essa foi a última formatura profissionalizante em nível de 2º grau em Poxoréo.
Agora, mais dez anos após, participo de outra grande festa de formatura, realizada pela Escola Pe. César Albisetti, dia 19 de dezembro, tendo como cenário o Balneário da Lagoa, todo engalanado para receber os quase cinqüenta concluintes do Ensino Médio. A festa foi de uma participação social espetacular. Muita gente compareceu para aplaudir e incentivar os futuros universitários a continuarem a sua caminhada na busca do conhecimento (vários já vitoriosos nos vestibulares). O local foi pequeno para tanta gente.
É claro que as festas do pré-escolar, sempre muito bonitas, nunca deixaram de acontecer e também aconteceu esse ano em quase todas as escolas. Também acho isso muito bacana. As crianças já entram na escola se formando e festejando. Assim, tomam gosto e pegam com vontade no Ensino Fundamental.
Algumas vezes, os concluintes das oitavas séries também organizam as suas festinhas de encerramentos e que, embora mais simples, também são cheias de significados. Mas, quanto às festas de formatura do ensino médio, elas pareciam ter perdido o sentido com o fim dos cursos técnicos. Afinal, concluindo um curso propedêutico, em que se estaria formando?
O propedêutico tem por objetivo a preparação para a continuação dos estudos em nível superior. Embora se pregue o contrário, ou seja, que se esteja preparando os alunos para a vida, como se pode dizer que alguém esteja preparado para o mercado laboral, após ter concluído apenas o Ensino Médio, quando esse grau de escolaridade hoje é o mínimo do mínimo que se exige para a maioria dos empregos públicos e privados?
É difícil concordar que a Escola Secundária esteja realmente preparando seus alunos para a vida. Todavia, o que ganhamos por que frustrar aqueles que pensam o contrário? Pessoalmente, entendo que os jovens devem se preparar para a vida, sim. Mas, em termos atuais, isso deve se dar em nível superior. Não dá mais para se contentar apenas com um ensino médio ou inferior. É preciso ir além.
Assim, as festas de “formatura” da pré-escola, do ensino fundamental e do ensino médio devem acontecer também. Elas devem ser bonitas, devem deixar saudades e serem capazes de marcar a vida dos “formandos”. Nesse sentido, devidamente motivado, o estudante se empenha mais e mais para continuar estudando e “formando”, durante o resto de sua vida.
Se antigamente bastava uma formatura, hoje temos que estar nos formando a cada dia, sob pena de ficarmos alijados do processo produtivo. O mundo continua do mesmo tamanho, mas hoje são mais de seis bilhões de pessoas disputando as vagas cada vez menores (por causa das tecnologias que desempregam e substituem os homens).
E, ao término de cada etapa, devemos festejar com a sociedade. Além de ser uma excelente oportunidade para nos divertirmos, a festa é também um momento oportuno para dizermos à sociedade que nós estamos prontos para atender aos seus reclamos por profissionais atualizados com os mais recentes conhecimentos e descobertas científicas.
Parabéns aos formandos de 2004 e que todos tenham bons estudos em 2005.
Prof Izaias Resplandes
Enviado por Prof Izaias Resplandes em 24/08/2008
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