Parentes de sangue
Nós temos uma preocupação particular com os nossos parentes de sangue e isso faz parte da natureza humana. No início do mundo, quando Deus criou os animais, podemos observar que Adão não se interessou por nenhum deles em particular, continuando sozinho. Diz a Bíblia que Deus o viu assim e disse: “Não é bom que o homem esteja só, far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea” (Gn 2:18). Então Deus o fez adormecer, retirou uma de suas costelas, transformou-a em uma mulher e trouxe-lha. Então o homem se sentou completo e feliz. Ali nascia a família.
Um homem sem família não é um homem completo. O homem necessita da companhia dos seus idôneos. Poderíamos generalizar e dizer que todos os homens são idôneos entre si, mas na medida em que a humanidade cresceu e se multiplicou, também foram se formando os grupos, as famílias, as parentelas, os de casa (1 Sm 10:5; Gn 10:5; 12:1; 7:1).
Quando nós descobrimos alguma coisa boa, as pessoas que normalmente nós procuramos para compartilhar, são os nossos parentes. Também quando nós vemos algum perigo pela frente, logo nos preocupamos em livrar os nossos de suas conseqüências. A Igreja começou assim. André conheceu Jesus e levou seu irmão Pedro até ele (Mt 4:18). Depois os irmãos André e João também foram chamados (Mt 4:21). E a idéia da influência da família era tão real que na mensagem apostólica, Paulo dizia: “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e tua casa” (At 16:31).
Quando um homem encontra-se com a verdade, logo ele se preocupa em fazê-la conhecida do resto de sua família. Diz a Bíblia que o crente que não se preocupa com os seus é pior do que os descrentes. O texto de 1 Tm 5:3-16 nos dá uma excelente lição de responsabilidade com os nossos parentes. Os filhos que não amparam suas mães quando se tornam viúvas são chamados à responsabilidade. Antes de termos outras pretensões missionárias, devemos aprender a ser generosos com os nossos familiares (vv. 4, 8). Muitas vezes nós vemos crentes que se omitem em relação aos seus, querendo ir de imediato até aos “confins da terra” para falar de Cristo, sob os auspícios financeiros da igreja, sem antes realizar o trabalho em “Jerusalém e na Judéia” (Mt 1:8), ou seja, no seu próprio meio familiar. Isso é uma irresponsabilidade que precisa ser reparada.
Há muito que se aprender, mas uma das coisas que todo crente precisa saber é como ter responsabilidade administrativa. O evangelho não progride, muitas vezes, porque nós “lançamos nossas pérolas aos porcos”, gastando os nossos poucos recursos com os “nossos próprios interesses”, não se importando nem com nossos parentes, nem com mais ninguém a não ser com nós mesmos. Gastamos tudo com nós mesmos, demonstrando que não sabemos administrar o “talento” que Deus nos deu.
O crente irresponsável onera a igreja e ela não consegue cumprir a sua missão de ser “luz para o mundo”. Os seus recursos financeiros quase sempre não são suficientes para atender sequer às necessidades locais, quanto menos do campo missionário, principalmente porque são normalmente são mal gerenciados. Um exemplo disso é o fato de termos o costume de pagar para fazer aquilo que seria a mínima obrigação que teríamos de fazer, mas que deixamos de fazer, que ignoramos como se não fosse nossa responsabilidade.
Olhemos para a ilustração dos filhos que não cuidam de suas mães viúvas e que sobrecarregam a igreja com esse fardo, impedindo que a igreja aplique os seus parcos recursos em benefício daqueles que realmente precisam. Não podemos ser coniventes com tal situação. A Igreja não pode ser solidária com os maus administradores, que se envolvem nessas situações. A obra de Deus é prioridade. Se não podemos ir, não podemos deixar de contribuir para que outros sejam a nossa boca e falem por nós.
Todo crente tem a sua primeira responsabilidade missionária com a sua família. E não deve desistir dela, antes deve lutar para levar todos à presença de Jesus, como fez André com Pedro (Jo 1:40-42). Enquanto houver vida, há esperança. Serve como referência a atitude de Davi quando Deus feriu de morte a criança que ele tivera com Bate-Seba em adultério. Ele buscou a Deus pela criança, prostrado em terra, chorando e jejuando por sete dias, esperando alcançar a complacência de Deus. Mas não conseguindo o seu intento e morrendo a criança, levantou-se, comeu e se fortaleceu novamente. Quando criticado, lembrou que enquanto a criança vivia, ainda era possível a sua salvação da morte, mas depois da morte, já mais nada podia ser feito (2 Sm 12:13-23). Devemos fazer alguma coisa pelos nossos enquanto estamos vivos.
A parábola do rico e do mendigo Lázaro é outro bom exemplo dessa argumentação (Lc 16:19-31). Nessa história, vemos uma pessoa se preocupando com os seus familiares, tarde demais. O rico que fora parar no inferno pede que Lázaro seja mandado à sua casa para falar aos seus sobre os riscos que corriam, para que eles também não fossem para naquele lugar. Infelizmente ele não foi atendido da forma que desejava. Que seus parentes ouvissem a Palavra de Deus, escrita por Moisés e pelos profetas, foi a resposta que obteve. A hora de nos preocuparmos com os nossos familiares é agora, enquanto nós e estivermos vivos e eles também. Depois que morrermos, nada mais poderemos fazer por eles. Essa é uma responsabilidade que não podemos escusar. Nossos parentes são nossa responsabilidade primeira.
Finalmente, uma argumentação para aquele que alega não saber falar, ou que é pesado de língua. Tal pessoa deve tomar as providências para que o conhecimento da mensagem aconteça. Lembremos do exemplo de Moisés (Ex 3 e 4). Ele fez tantas alegações (Ex 3:11, 13, 4:1, 10, 13). Deus deu uma resposta para todas elas, dizendo-lhe ao fim da discussão que ele usasse a boca de seu irmão Arão (Ex 4:16). Se não estamos preparados para falar por meio de palavras, então devemos falar por meio de atos. Devemos ser um exemplo a ser seguido e devemos contribuir com os nossos recursos para que outros possam chegar até eles. Mas não podemos ficar omissos, sob pena de estarmos negando a fé que temos abraçado (1 Tm 5:3-16). Jesus fez por nós. Deu o melhor de si pela nossa salvação. Agora é nossa vez de fazer pelos demais. Sigamos os seus exemplos (Jo 13:15; 13:34). E que Deis nos abençoe!
Izaias Resplandes é membro da Igreja Neo-Testamentária de Poxoréo, MT.
Prof Izaias Resplandes
Enviado por Prof Izaias Resplandes em 27/08/2008