O náufrago
Análise sociológica do filme “O Náufrafo”
Título Original: Cast Away
Gênero: Drama
Direção: Robert Zemeckis
País / Ano de Produção: EUA, 2000
Duração: 134 min.
Elenco: Tom Hanks (Chuck Noland), Helen Hunt (Kelly Frears), Christopher Noth, Nick Searcy, Lauren Birkell
Síntese do filme.
Chuck Noland é um engenheiro de sistemas do FedEx, cuja vida pessoal e profissional são controladas pelo relógio. Seu trabalho o leva, na maioria das vezes de um instante para o outro, para locais bem distantes - e bem longe de sua namorada, Kelly. Essa louca existência de Chuck termina abruptamente quando, depois de um acidente de avião, ele fica isolado numa ilha distante - um náufrago no ambiente mais desolado que se possa imaginar. Sem as conveniências da vida diária, primeiro ele tem que encontrar meios de suprir as necessidades básicas para a sua sobrevivência, incluindo água, comida e abrigo. Chuck, aquele que consegue resolver todos os problemas, acaba descobrindo como sobreviver fisicamente.
Analise Sociológica
“O Náufrago” é um menu bastante variado sob o ponto de vista sociológico. Nosso exame enfocará a questão do isolamento, bem como as mudanças sociais decorrentes da adaptação, da acomodação e da assimilação que se verificam na vida de Chuck Nolan.
O isolamento é a “falta de contato ou de comunicação entre grupos ou indivíduos. Depois que o indivíduo estiver socializado, o isolamento prolongado provocará a diminuição das funções mentais, podendo chegar à loucura” (LAKATOS & MARCONI, 1999:352). O que se verifica no filme é o isolamento espacial ou físico de Chuck Nolan, em uma ilha do sul do Pacífico, por um período de 4 anos. É um período curto e, talvez por isso, não chega a provocar o retardamento mental e tampouco a loucura aventada pelos teóricos. As relações antropomórficas que ele mantém com a bola “Wilson”, não se pode dizer que sejam desvios comportamentais, embora não seja normal uma pessoa manter esse tipo de diálogo. Todavia, quantas vezes nós não nos flagramos conversando sozinhos. Nem por isso podemos ser tachados de retardados ou loucos. No caso em questão, Chuck demonstra uma excelente atividade racional, seja controlando o tempo, seja fazendo projetos e planos para deixar a ilha, incluindo a realização de cálculos matemáticos sobre a quantidade de cordas que precisaria para construir a jangada, etc. O efeito mais acentuado é o da tentativa de suicídio.
A adaptação, “significa o ajustamento biológico do ser humano ao ambiente físico em que vive” (LAKATOS & MARCONI, 1999:342). Com certeza, Nolan teve que passar por grandes adaptações para viver em sua ilha. Seu organismo teve que se adaptar a satisfazer-se com água de coco para saciar a sede e a fome e a ficar com o corpo salgado o tempo todo depois do banho. Teve que adaptar-se também a viver seminu.
Além disso, o que mais se verifica no filme são exemplos de acomodação. Entende-se essa como “o ajustamento formal e externo, sendo pequena a mudança interna” (LAKATOS & MARCONI, 1999:342). Chuck não teve outra escolha. Era beber água de coco, comer castanha de coco ou peixes e moluscos crus ou morrer. Também a escolha do patim cortante como faca, a forma de fazer roletando os pausinhos entre si, a confecção de cordas com cipós e fitas de víedo. Tudo o que ele fez ali, não o fez porque entendia que aquela era a melhor forma de se fazer, mas porque só aquilo era possível. Foi uma adaptação às circunstâncias. No seu íntimo, quando ele voltou à civilização, certamente que ele retornou às práticas decorrentes de sua cultura. Não houve da parte dele, uma assimilação daquelas práticas improvisadas, mas apenas uma adaptação. Quando ele retorna à civilização, ele volta a usar as roupas e tudo o mais. Um dos aspectos de adaptação mais notáveis do filme é a construção do alter. Não conseguindo viver só, por ser “um animal social”, como dizia Aristóteles, Nolan cria o seu amigo Wilson, uma ciatura antropomórfica da bola de voleibol, com a qual conversa, discute, troca idéias e pela qual demonstra afetos humanos.
A assimilação é o processo de mudança interna, com a inclusão de novos valores culturais, que substituem os valores antigos. O Nolan não substituiu nenhum de seus valores antigos quando voltou à civilização (pelo menos não se mostra isso no filme). Quando ele está deixando a ilha, ele a olha de uma forma nostálgica, como se a tivesse assimilado. Cheguei a pensar que ele voltaria para lá, posteriormente, caso não se readaptasse à vida em sociedade, como aconteceu com o Tarzan, mas foi só uma cena. Parece ele quis mais saber de sua ilha. Quem demonstra assimilação mais acentuada são a namorada e os amigos dele que ficaram na civilização. Após procurá-lo por um certo tempo, consideraram-no “desaparecido”, fizeram o seu sepultamento e a sua namorada se arrumou em casamento com o seu dentista. Certamente havia uma questão de interesse pessoal e por isso houve a assimilação da cultura pós-moderna. Não se pode dizer que eles foram obrigados a considerar de fato Nolan morto, embora a legislação deles reconhecesse assim, como acontece nas leis brasileiras (Lei nº 10.406, de 10 de janeiro 2002, art. 26).
Prof Izaias Resplandes
Enviado por Prof Izaias Resplandes em 03/09/2008