Cláudio Réche: Casos, contos e reflexões
A faculdade é um mundo à parte. Na UNIC de Primavera do Leste, MT, o slogan é de que ali “tudo se encontra”. Isso talvez seja um tanto pretensioso. Mas, pretender não é pecado. Pelo contrário, é virtude. Aqueles que têm ambição costumam fazer alguma coisa para alcançá-las. Quanto aos outros, a maioria só serve mesmo é para encher as covas cavadas a sete palmos de chão. Se não fazem nada, não passam de parasitas. E estes... Somente são aceitos quando produzem flores, como as orquídeas, por exemplo. Os outros... São deveras detestados.
A UNIC de Primavera, desde os tempos em que ainda era a UNICEN, empreendida pelo Dr. João Medeiros, vem despertando muitas pretensões, sonhos e esperanças nas pessoas que vivem nessa região. Além disso, tem sido uma porta aberta para o emprego de bons profissionais da educação. Eles vêm do Paraná, de São Paulo, de Goiás e de Minas Gerais, só para citar alguns exemplos. Foi assim que, realizando o meu sonho de cursar o Direito, tive o privilégio de receber o ensino de qualidade dos paranaenses José Carlos Iglesias e Marcelo Theodoro, da paulista Fabiane Guilherme, do goiano Renato Cintra Farias e, agora em 2009, do mineiro de Governador Valadares, Cláudio Réche. É claro que Primavera do Leste tem sido uma porta aberta para profissionais das mais diversas áreas. Mas o que eu destaco nesses professores é que vieram para cá, acreditando que poderiam contribuir para melhorar ainda mais a Educação em Mato Grosso. Não vieram para dar aulas, nem para vendê-las. Vieram como educadores.
O prof. Cláudio Réche trabalha diversas disciplinas no curso de Direito da UNIC. Minha filha Mariza Resplandes gosta muito de suas aulas de Direito Civil e eu não posso negar que ele conseguiu despertar meu interesse pelo Direito Internacional, apesar de que sempre achei que esse Direito estava longe de nossas realidades interioranas. Hoje vejo que não é bem assim. Com seu jeito extremamente humano de ser, sua compreensão e sensibilidade com nossas limitações e, principalmente, a vontade de ser parceiro na nossa aprendizagem, Cláudio tem conseguido cativar não somente a mim, mas também os meus colegas do décimo semestre de Direito e outros alunos que sempre param em nossa porta para lhe dar um abraço, um cumprimento ou um beijo afetuoso. Sem dúvida, Cláudio Réche é um professor diferente e que será sempre lembrado em nossas memórias.
Mas essa história não acaba aqui. Pois justamente agora, já no apagar das luzes, faltando pouco mais de um mês para terminar o curso de Direito, não é que descubro que o Prof. Réche é também um escritor. Pois é! Além de professor, educador, advogado, pai, marido e chefe de família, o conterrâneo do grande JK acrescenta em seu legado, para esse começo de carreira literária, o livro “Casos, contos e reflexões”. Trata-se de uma edição do autor e que pode ser encontrada na Cantina da UNIC de Primavera do Leste. É... Realmente “tudo se encontra” nessa faculdade! Eu gosto de comprar livros e de lê-los. Mas nunca pensei que encontraria um livro à venda em nossa cantina, embora isso seja bastante comum hoje em dia, em outros lugares. Então adquiri um dos exemplares que estavam à venda, o qual estou lendo.
A temática abordada pelo escritor é bastante ampla. No entanto, o amor está sempre presente. Amizade, paixão e doação. Os gregos têm três palavras para retratar o amor: phileo, eros e agape. Tudo isso é amor. São apenas formas diferentes de manifestá-lo. Cláudio explora todas essas vertentes.
A importância da amizade para o escritor é demonstrada, por exemplo, em “O jogo”. Quatro amigas se reúnem para jogar buraco. Estar junto é sem dúvida um grande motivo para qualquer coisa. Eu não gosto de qualquer jogo. Mas gosto de estar junto. E se esse é o motivo para estar junto, então até mesmo esse “jogo de buraco” pode ser algo que vale a pena. Esse primeiro “caso” é um bom estímulo para se ler o livro “Casos, contos e reflexões” até a página 81, onde o autor se autobiógrafa, falando de seu “Eu...”, fechando a obra.
O eros, por sua vez, se manifesta no caso “Se o vulcão Etna fosse uma mulher”. A erupção é romantizada. O Vulcão é visto por Cláudio como Edna, uma mulher apaixonada que se explode em momentos de intenso gozo e prazer no encontro com o seu amado.
Já o agape pode ser vislumbrado no “Decreto real” que obrigava os súditos a terem o mesmo sentimento da rainha, fosse alegria, tristeza, melancolia, fosse o que fosse. O “caso” mostra a situação de um súdito que, tendo passado o dia todo com sua amada, ainda embriagado de amor, foi pego por um soldado quando expressava a sua felicidade e foi preso, porque naquele dia a rainha estava triste e ele nem sabia. Mas, o jovem não discute e aceita passivamente cumprir a sua pena, entendendo que se errara, o fizera por “amar demais”. É um caso muito lindo e que vale a pena ser lido.
E assim, “Casos,contos e reflexões” vai por aí afora. Além do amor em suas três dimensões, está repleto de humor e poesia. É um livro onde Cláudio Réche, que se diz um macho de verdade, desfecha suas “porradas de palavras que podem transformar o diálogo na maior e melhor arma para a salvação da Humanidade”.
E o melhor de tudo é que a obra pode ser encontrada entre os quibes e quitutes da Cantina da UNIC/Primavera, onde também se pode encontrar, às vezes, o próprio autor, o qual sempre tem uma boa história para contar. Da mesma forma que vale a pena ler o livro, também vale a pena conversar com seu autor. É um bom papo.
Prof Izaias Resplandes
Enviado por Prof Izaias Resplandes em 16/05/2009
Alterado em 17/05/2009