Nós vivemos no tempo e no espaço. Dizemos que estamos no ano tal e em tal local do universo. Tiago, “servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo”, escrevendo “às doze tribos que se [encontravam] na Dispersão” (Tg 1:1), disse: “Atendei, agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá passaremos um ano, e negociaremos, e teremos lucros” (Tg 4:13).

“Hoje ou amanhã”. Aqui ou na “cidade tal”. Essa localização espaço-temporal é sempre relativa, porque elas se baseiam em referenciais que nós criamos. Inclusive, aprende-se nos estudos de Física que os conceitos de “longe”, “perto”, “em cima”, “embaixo”, entre outros, são sempre relativos, por que dependem do referencial que for considerado. Portanto...

O tempo e a realidade são sempre relativos. Nem tudo é do jeito que nós pensamos, embora as coisas somente possam ser compreendidas se enquadradas dentro dos parâmetros que nós estabelecermos, ou seja, para uma boa compreensão, faz-se necessária a construção de um modelo teórico-científico a respeito do assunto. Assim...

Para entender o que é o HOJE eu preciso ter como referência o ONTEM ou o AMANHÃ. O hoje é aquilo que vem após o que já se passou e que vem antes do que ainda não veio.

“Ah! Mas todo sabe o que é o hoje!” – dir-se-á. E eu respondo sem titubear: “Não sabe!” Veja que se alguém dissesse a você que sua casa está pegando fogo, ou seja, se você soubesse disso, certamente você sairia correndo para tomar as providências que fossem possíveis. De igual forma, se as pessoas entendessem o que realmente é o HOJE, certamente estariam desesperadas para tomar uma atitude em relação ao AMANHÃ de suas vidas. Nesse sentido, é possível que as pessoas tenham uma idéia do que seja o HOJE. Imaginam que possa ser um espaço de tempo que começou à meia-noite (zero hora) e que vai terminar novamente à meia-noite (vinte e quatro horas), o que não deixa de ser certo, mas, por outro lado, o momento em que eu comecei a falar sobre esse assunto já é passado e o que é passado, não é HOJE, é ONTEM!

O HOJE é o AGORA! E quando dizemos que uma decisão precisa ser tomada HOJE, não estamos a dizer que isso pode ser feito até à meia-noite. Não! É uma decisão para o instante T-Zero, ou seja, que não pode ser postergada nem um instante a mais, sob risco de não mais poder ser tomada. Exemplificando...

O autor da Carta aos Hebreus alerta: “Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo; pelo contrário, exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama Hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado” (Hb 3:12-13).

Assim, o HOJE é o AGORA! Já! Nesse momento. Há várias referências bíblicas sobre esse importante tempo, que é único, que é instantâneo, que não dura, que não perdura. Vejamos algumas:

Bem-aventurados vós, os que agora tendes fome, porque sereis fartos. Bem-aventurados vós, os que agora chorais, porque haveis de rir, Lc 6:21; Ai de vós, os que estais agora fartos! Porque vireis a ter fome. Ai de vós, os que agora rides! Porque haveis de lamentar e chorar, Lc 6:25; Chegou o momento de ser julgado este mundo, e agora o seu príncipe será expulso, Jo 12:31; Porque, agora, vemos como em espelho, obscuramente; então, veremos face a face. Agora, conheço em parte; então, conhecerei como também sou conhecido, 1 Co 13:12; (porque ele diz: Eu te ouvi no tempo da oportunidade e te socorri no dia da salvação; eis, agora, o tempo sobremodo oportuno, eis, agora, o dia da salvação) (2 Co 6:2).

Antes de se pensar que as coisas são assim e assado, que vai acontecer isso e aquilo... É importante ler, estudar, analisar, perguntar... Às vezes nós poderemos ser surpreendidos com os resultados. A precipitação nas conclusões pode apenas nos levar a um sofrimento desnecessário. O amanhã, com certeza nos trará respostas mais precisas. De forma que antes de ficarmos correndo atrás dos problemas futuros, querendo resolvê-los antes dos problemas de hoje, seria melhor mesmo que nos preocupássemos apenas com os de hoje. Os problemas do HOJE já são muitos. “Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal”, Mt 6:34. Mas...

Se, todavia, formos pensar no AMANHÃ, então pensemos que ele poderá ser melhor do que o HOJE, que lá nós realizaremos os nossos sonhos e tornaremos os nossos projetos em realidade. Pensemos que Deus estará no comando de tudo e que nada mais venha dar errado. O AMANHÃ é para ser um HOJE bem realizado. Se fizermos bem a nossa lição de hoje, o amanhã deverá ser tranquilo. Ele somente pegará desprevenido àquele que não fez o dever de casa, que foi relaxado, que adiou tudo para o momento seguinte.

A existência do AMANHÃ depende de fé. Ele traz as coisas que ainda não aconteceram, as coisas que ainda não existem. Portanto, para se apossar do amanhã, antes de tudo é preciso se encher de fé. E isso deve ser feito hoje. Segundo o autor de Hebreus: “a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem”, Hb 11:1.

Nessa linha, é de ver o que diz o Pregador. Ele deixa entender em sua mensagem que o futuro pertence a Deus. O futuro é o AMANHÃ. E, salvo se tivermos a fé, não podemos ter garantias de que o AMANHÃ virá. Ele diz que “os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco terão eles recompensa, porque a sua memória jaz no esquecimento”, Ec 9:5. Em outras palavras, do hoje, nós até podemos falar, mas o amanhã, sem fé, com certeza é uma incógnita. E mesmo para quem tem a fé para acreditar que ele virá, é preciso muito mais para se saber como ele será. O autor de Hebreus nos diz que o HOJE serve de parâmetros para que possamos compreender o AMANHÃ, mas a realidade futura não é uma cópia da realidade atual. Assim diz ele: “a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas”, Hb 10:1.

Não é pecado querer entender e se preparar para o AMANHÃ. Pelo contrário, esse é um dever de todos nós. O pecado é querer resolver o amanhã, pulando o hoje. Desse assunto, assim disse Jesus: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim”, Jo 5:39. A vida eterna é futuro, é amanhã. Com ela, sim, devemos nos preocupar. Principalmente, por que somos ensinados pelas Escrituras que se não nos prepararmos hoje para a vida eterna de amanhã, poderemos ser surpreendido com uma vida de sofrimento eterno, equiparada a uma morte eterna, ao invés de uma vida de gozo eterno. A esse respeito, temos a parábola contada por Jesus a respeito de certo homem rico e de um mendigo chamado Lázaro, relatada em Lc 16:19-31. Nessa parábola...

O homem rico, morrendo, foi para o inferno, onde seu sofrimento era mui grande. E então ele se preocupou com o futuro de sua família. Como ele vivera, eles também viviam totalmente despreocupados com o que iria acontecer. Então ele pede que seja mandado alguém para falar com eles. Mas o pedido é negado, haja vista que já havia alguém falando e eles, se quisessem, deveriam ouvi-los. Era Moisés e os profetas. Diante disso...

Hoje é o tempo de buscar compreender as coisas futuras, o amanhã é o que está por vir. Para tanto, há que se viver o hoje de tal forma que se possibilite essa compreensão. O discernimento sobre o AMANHÃ é espiritual e somente quem está preparado espiritualmente para compreender será capaz de fazê-lo. Assim escreveu o aposto Paulo: Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente, 1 Co 2:14. Nesse sentido...

Hoje é o tempo de nos prepararmos. Devemos dedicar tempo para a meditação, a leitura, o estudo e a compreensão da Palavra de Deus, para que, em todo tempo, seja hoje, amanhã ou na eternidade, nós saibamos qual seja a “boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12:2). Sigamos o conselho de Davi, homem segundo o coração de Deus, nas palavras de Paulo (At 13:22).

Assim disse Davi: “Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes, o seu prazer está na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite. Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem sucedido”, Sl 1:1-3.

Esse é o nosso propósito ao tratar desse tema. E “isso faremos, se Deus permitir”, Hb 6:3.

Que Deus nos abençoe!

Poxoréu, MT, 24 de abril de 2010.

Izaias Resplandes de Sousa