O cristão, a cidadania e a política
Antes de tudo quero definir as três palavras chaves dessa mensagem, para que se tenha clareza daquilo que pretendemos apresentar.
Não há dúvidas que, desde os tempos da igreja neotestamentária do primeiro século, desde que os discípulos de Jesus foram chamados “cristãos”, na cidade síria de Antioquia, no Império Romano, ficou bem entendido que “cristão” é aquele que segue a Jesus (Cf. At 11:26).
E “cidadão”? Quem é o cidadão?
O cidadão é a pessoa que vive em sociedade, segundo as regras de convivência que foram pré-estabelecidas pelo grupo social. É aquele que está no pleno gozo dos direitos civis e políticos que o País lhe concede, ou então no desempenho de seus deveres para com este país. Ao ter consciência e exercer seus direitos e cumprir deveres para com o país em que vive, a pessoa está exercendo a sua cidadania. Desse modo, para que um país tenha existência e sustentabilidade como tal, é necessário que eduque o seu povo para que respeite a sua Constituição. Um país é a instituição estabelecida e regrada em sua Constituição e nas demais leis complementares e ordinárias que fizer para regular a convivência social.
Destarte, em um país todos estão obrigados a obedecer a sua Constituição. Também os cristãos estão obrigados à obediência à Constituição, embora ela própria estabeleça que, ninguém seja obrigado a fazer qualquer coisa que contrarie suas convicções religiosas, filosóficas e políticas, desde que concorde em cumprir uma obrigação alternativa estabelecida em lei (CF, art. 5º, VIII). A simples alegação de que “não faz porque não concorda” não exime a ninguém da responsabilidade de fazer alguma coisa. Se não pode fazer a obrigação principal porque não concorda com ela, então deverá fazer a obrigação acessória, sob pena de privação de seus direitos constitucionais. Só tem direito a pessoa que cumpre com os seus deveres.
E política? O que é política? A maioria das pessoas não gosta de ouvir nem a palavra... Mas, com certeza não é por causa da política e sim, da politicalha. Essa, sim, é nojenta e detestável! Mas vejamos então o termo ao qual estamos nos referindo: a política.
Política é a ciência que cuida da organização, direção e administração da coisa pública, seja de um país, de um Estado, de um Município, ou até mesmo de uma escola ou de uma associação de bairros, ou de uma igreja, ou até mesmo da família. Conforme o caso seria política de Estado, política municipal, política da igreja ou política familiar.
A palavra política é de origem grega. Era usada para se referir a tudo o que dissesse respeito à cidade, ou seja, ao grupo de pessoas que conviviam. E, portanto teriam direitos e responsabilidades. Quem vai cuidar de gerenciar todos esses assuntos pertinentes ao grupo é o político, o qual pode ser o Presidente da República, o Governador, o Prefeito, mas pode também ser o Presidente da Associação de Moradores ou o Presidente da Igreja. Quando as coisas são feitas assim, nós temos o exercício da política. Quando as práticas políticas se corrompem, então deixa de ser exercício da política para ser o exercício da politicalha.
Aristóteles, filósofo grego, contemporâneo do povo que criou a palavra, expressou-se acerca do homem dizendo que “o homem é um animal político, porque não consegue viver fora da polis”. Político, nesse contexto, quer dizer social. Polis é o grupo, a cidade. O homem é um ser social e que nao consegue viver fora da sociedade. Não existe uma pessoa que seja cem por cento eremita. O homem depende de alguém para nascer, sobreviver nos seus primeiros dias (se um bebê ficasse abandonado ao nascer, certamente morreria), sobreviver depois (produção de tudo o que precisa: roupa, comida, moradia, saúde, linguagem, etc.) e ser sepultado. Também depende de Deus para salvar a sua alma. Como se vê, o homem é cem por cento dependente de outras pessoas e dificilmente seria independente, como muitos pregam ser.
Definidas as palavras-chaves, vamos ampliar a reflexão para sabermos o que é que o cristão tem a ver com o exercício da cidadania e da política. E já antecipo que tem tudo a ver. O cristão, antes de tudo, é uma pessoa que vive em um país e, certamente, é um cidadão desse país, exercendo nele os direitos que lhe são assegurados e, de igual forma, cumprindo com suas responsabilidades para com esse país.
A Bíblia diz em 1 Pedro 2:13-17, o seguinte:
Sujeitai-vos, pois, a toda a ordenação humana por amor do Senhor; quer ao rei, como superior; quer aos governadores, como por ele enviados para castigo dos malfeitores, e para louvor dos que fazem o bem. Porque assim é a vontade de Deus, que, fazendo o bem, tapeis a boca à ignorância dos homens insensatos; como livres, e não tendo a liberdade por cobertura da malícia, mas como servos de Deus. Honrai a todos. Amai a fraternidade. Temei a Deus. Honrai ao rei.
O rei que a Bíblia fala é o político. É dever do cristão, determinado pelas Sagradas Escrituras, obedecer às orientações políticas. Claro que estamos falando para aqueles que entendem que a Bíblia é um conjunto de determinações divinas, escritas para nos orientar na condução de nossas vidas, como diz Paulo na sua segunda carta a Timóteo, em 3:16-17. Diz ele:
Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.
A Bíblia é a nossa bússola. Ela nos orienta na direção que Deus idealizou para nós. Não é por acaso que o salmista Davi escreveu:
Lâmpada para os meus pés é tua palavra, e luz para o meu caminho, Sl 119:105.
Podemos dizer que somos cristãos e não obedecer às leis de nosso país? É claro que não! Crente é pessoa ordeira, pessoa de bem, pessoa de paz. Nós somos promotores do entendimento. Não somos criadores de confusão, porque servimos a um Deus, que nos dá exemplos de todas as coisas, para que possamos ser perfeitos e assim abafarmos e calarmos às bocas maliciosas e malignas que intentam diariamente acusação contra nós. Crente não cria caso, ainda que sofra perseguição e injustiça. Se lhe batem em uma face, vira a outra, não porque seja covarde, mas porque é temente a Deus e porque o Deus ao qual servimos, “não é Deus de confusão, senão de paz”, 1 Co 14:33.
O cristão se submete as leis de seu país. E quando elas atentam contra o nosso Deus, então nós apelamos para a autoridade máxima do país, a Constituição Federal. E pedimos escusas para tal obediência, prontificando-nos a cumprir a prestação alternativa, fixada em lei.
O país é administrado pelos políticos, no exercício da Política. A estes cabem garantir o exercício da cidadania a todos os que vivem no território nacional e que cumprem com suas responsabilidades civis e políticas.
O crente sincero é o que paga os seus impostos. O crente sincero não é, nem contrabandista e nem receptador. Ele pede a Nota Fiscal daquilo que compra, para justificar a origem de suas aquisições. Ele não se compactua com qualquer espécie de corrupção. Não é porque a maioria se corrompe que ele também vá se corromper. Não! De modo algum!
É de lembrar que nos dias em que Jesus estava no mundo, ele também via que os políticos que governavam sobre o povo, julgavam suas causas e estabeleciam as leis e regulamentos para todos, eram corruptos. No entanto, deveriam ser obedecidos, porque estavam em posição de autoridade. E a autoridade tem o direito de exercer o poder de Deus, no juízo sobre os cidadãos. E foi isso que Jesus disse aos seus discípulos:
Todas as coisas, pois, que vos disserem que observeis, observai-as e fazei-as; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não fazem, Mt 23:3.
Não é porque os políticos são corruptos, que nós também temos que ser. Não é porque fazem coisas erradas, que nós também temos que fazer. Eles não temem a Deus, não se submetem às leis de Deus e haverão de sofrer mais rigor em seu julgamento, do que os demais. É possível que as pessoas comuns descumpram algumas das tantas leis que existem, porque nem sabem que existem. Isso não quer dizer que sejam inescusáveis no caso de descumprimento. Não! Todos os cidadãos de um país têm o dever de conhecer as leis às quais estão submetidos e de obedecê-las, ou então, sofrer as consequências, sendo que a principal delas é a supressão dos seus direitos.
No primeiro domingo do mês de outubro e também no último domingo do mesmo mês, o povo brasileiro é convocado para votar nas eleições que definirão quem serão as novas autoridades do país.
O voto no Brasil é obrigatório para as pessoas com mais de 18 anos e menor que 70 anos. É facultativo apenas para os analfabetos de qualquer idade, para os menores de 18 anos e maiores que 16, e para os maiores de 70 anos.
Meus queridos e minhas queridas... Se você está dentro da faixa etária em que o voto é obrigatório, compareça nas seções eleitorais e vote. Você não tem que dizer para quem você votou, porque o voto no Brasil é secreto. Faz bem aquele que se acautela e não fica espalhando para todo mundo que o seu voto é de sicrano, ou de beltrano, ou de qualquer outro fulano. Pode ser que o fulano que recebeu o seu voto não se eleja e você, ou sua família, ou a sua igreja, ou a sua cidade venha sofrer represálias por causa da sua pregação desnecessária.
Vote com responsabilidade, escolhendo candidatos que coloquem fardos mais leves sobre nossas costas. Sim, porque não existe governante que não vá colocar fardos sobre nós, que podem ser pesados em demasia e nos levar a gemer sob seu peso, para carregá-los.
Sejamos inteligentes. Devemos discutir a nossa ação política em casa, com nossos familiares; se for possível, também devemos fazer isso na igreja. Esclarecidos e concordes, devemos votar conforme a avaliação do nosso grupo, para que os nossos votos sejam votos de força e poder de decisão. Devemos ser unidos, porque isso nos fortalece. Ninguém quebra o cordão de três dobras, conforme Ec 4:12.
Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união, Salmos 133:1.
O que nós concordarmos Deus vai respeitar, porque Ele nos concede o livre arbítrio para decidirmos o que queremos, ou o que entendamos que seja melhor para nós, enquanto grupo.
Muitos pensam apenas em seus próprios interesses e nem procura discutir com os irmãos o que é melhor para a Igreja. Isso é mesquinharia e falta de amor, porque aquele que ama “não busca seus próprios interesses”, senão que os de toda a coletividade, 1Co 13:5.
A nossa unidade é necessária para a igreja e para o povo de Deus. Nossos votos e nossas escolhas têm que ser os melhores e as melhores possíveis. Disso dependerá se o nosso futuro JUGO será leve e suave, ou se será um fardo pesado demais.
A Bíblia Sagrada diz o seguinte em 1 Co 1:10; 3:1-7, 21-23:
“Irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo suplico a todos vocês que concordem uns com os outros no que falam, para que não haja divisões entre vocês, e, sim, que todos estejam unidos num só pensamento e num só parecer”.
E continua o escritor:
“Irmãos, não lhes pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a crianças em Cristo. Dei-lhes leite, e não alimento sólido, pois vocês não estavam em condições de recebê-lo. De fato, vocês ainda não estão em condições, porque ainda são carnais. Porque, visto que há inveja e divisão entre vocês, não estão sendo carnais e agindo como mundanos? Pois quando alguém diz: "Eu sou de Paulo", e outro: "Eu sou de Apolo", não estão sendo mundanos? Afinal de contas, quem é Apolo? Quem é Paulo? Apenas servos por meio dos quais vocês vieram a crer, conforme o ministério que o Senhor atribuiu a cada um. Eu plantei, Apolo regou, mas Deus é quem fazia crescer; de modo que nem o que planta nem o que rega são alguma coisa, mas unicamente Deus, que efetua o crescimento. Portanto, ninguém se glorie em homens; porque todas as coisas são de vocês, seja Paulo, seja Apolo, seja Pedro, seja o mundo, a vida, a morte, o presente ou o futuro; tudo é de vocês, e vocês são de Cristo, e Cristo, de Deus”, 1 Co 3:1-7, 21-23.
A minha contribuição hoje é em prol da unidade do povo de Deus. Há muita gente que diz não gostar da política e que por isso não vai votar em ninguém. Eu acredito que essas pessoas que assim pronunciam, não se referindo à política, a verdadeira arte de organização, direção e administração da coisa pública, mas sim, à politicalha. Rui Barbosa, um dos maiores intelectuais da Bahia fez a distinção entre os dois termos. Diz ele:
"Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não se relacionam uma com a outra. Antes se negam, se excluem, se repulsam mutuamente. A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis. A politicalha é a indústria da exploração em benefício de interesses pessoais. Constitui a política uma função, ou o conjunto das funções do organismo nacional: é o exercício normal das forças de uma nação consciente e senhora de si mesma. A politicalha, pelo contrário, é o envenenamento crônico dos povos negligentes e viciosos pela contaminação de parasitas inexoráveis. A política é a higiene dos países moralmente sadios. A politicalha, a malária dos povos de moralidade estragada”.
Veja-se que política e politicalha são coisas diferentes, como também é diferente o cidadão que cumpre com os seus deveres para com os demais cidadãos e aquele que simplesmente se submete à prestação alternativa de “pagar a multa”. Este diz: “porque eu vou perder meu tempo com isso? Depois eu vou ao Cartório Eleitoral e pago a multa. É uma mixaria”. Pois eu vou dizer por que o cristão não deve fazer isso. Porque aquele que pensa somente no que lhe é conveniente, embora sua ação seja prejudicial aos demais, não pode ser cristão.
O cristão é governado pelo amor. Nós buscamos fazer aquilo que é melhor não somente para nós, mas para todo o nosso grupo.
Meus queridos irmãos e minhas queridas irmãs... O nosso voto é um voto de amor por aqueles que mais sofrem, que são mais humildes, que mais precisam do governo. Pensemos nisso. Nosso voto não é a expressão do nosso egoísmo. O individualismo que norteia as atitudes anticristãs de alguns, não pode ter vez em nosso meio.
Antes de finalizar eu também quero falar em relação ao voto nulo e em branco. Meus queridos... Cristão não vota assim. Cristão tem consciência. É racional. Serve a Deus com inteligência, de forma racional. Nós recebemos de Deus a capacidade de discernimento. Não sejamos crianças, não sejamos néscios. Sejamos pessoas responsáveis.
Aquele que vota nulo, ou seja, que vota em um número que não pertence a ninguém e confirma o seu voto, está dizendo que nenhum dos candidatos que se apresentaram serve para governar sobre ele. Está dizendo que não é competente para votar e escolher o que seja o melhor dentre os “piores”. Porque, certamente que todos não são iguais. Nenhuma pessoa é igual a outra. Certamente, nem todos dizem o que são também. Então, queridos, cabe a nós descobrir quem é quem e escolhermos o melhor. Quem não quer se dar ao trabalho de escolher um candidato entre os tantos que existem é um preguiçoso e deve ir ter com a formiga para aprender como é que se age...
A pesquisa sobre a vida dos candidatos deve incluir suas ações, seus exemplos, o que falam dele, com quem anda, a que grupo pertence, qual é sua religião, como se comporta sua família, que faculdade estudou, em que empresa trabalha, como ganha sua vida... Isso é que é pesquisa e isso dá trabalho, mas é necessário para que se dê um voto racional e consciente e se tenha um pouco de segurança para se ter certeza de que se fez a melhor escolha.
O filósofo Platão pode ter dito muitas coisas que não concordamos, mas ele disse uma frase muito interessante e que vale a pena repetir: Diz ele: “Não há nada errado em não gostar de política. A única consequência disso é você será ser governado por alguém que gosta de política”.
O voto em branco também é um voto irresponsável. A interpretação que se faz é de que qualquer um dos que forem eleitos esteja bom. E não é assim que um cristão age. As pessoas não são todas iguais. Eu não sou igual a você e você não igual a ninguém, já dissemos. Somos todos diferentes uns dos outros e é nisso que reside a maravilha da criação divina. Analise, examine, investigue, procure saber quem é quem e escolha um dentre todos. Faça isso pelos demais. Não vote em branco pelo que você pensa, mas vote em alguém que você, sua família e sua igreja concluíram que será o melhor para todos.
É assim que se vota.
Ao encerrar eu quero convidar a todos para que compareçam às urnas durante o mês de outubro e que exerçam o seu direito de cidadania e sejam responsáveis pelos novos ou velhos políticos que estarão governando sobre nós. Votem com cautela, sem arruaças, sem gritarias, sem entusiasmo exagerado e sem partidarismo.
Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai, Fp 4:8.
Que Deus nos abençoe!
Prof Izaias Resplandes
Enviado por Prof Izaias Resplandes em 05/10/2014