OH, DEUS, ONDE ESTÁS QUE NÃO RESPONDES

Izaias Resplandes de Sousa

Castro Alves escreveu esse verso em seu poema “Vozes d’África”, dizendo que há dois mil anos o grito de dor e sofrimento da África ecoa pelo infinito sem ter uma resposta. Por certo, esse clamor não é apenas africano, posto que, pelo mundo todo, pessoas reclamam de ter pedido o socorro divino e não ter recebido a resposta. Esse é o tema que pretendemos analisar à luz das Escrituras Sagradas.

É de ver que Deus é onipresente e, portanto, está sempre em todo lugar. Toda a criação, tanto física quanto espiritual está diante dele a todo instante. Assim é a Palavra: “E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar. Hebreus 4:13”.

Então, se Deus está vendo tudo o que se passa conosco, porque não responde ao nosso desesperado clamor? O profeta Habacuque também fez uma pergunta semelhante: “Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! e não salvarás?” Habacuque 1:2. Davi, semelhantemente, assim clamou: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que te alongas do meu auxílio e das palavras do meu bramido?” Salmos 22:1. E Jesus, na cruz, repetiu o lamento de Davi, dizendo: “Eloí, Eloí, lamá sabactâni? que, traduzido, é: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Marcos 15:34.

Bem! Na verdade, eu creio que Deus já respondeu todas as nossas orações. Assim é a Palavra: “E havendo Deus acabado no dia sétimo a obra que fizera, descansou no sétimo dia de toda a sua obra, que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que Deus criara e fizera” Gênesis 2:2,3. Nós temos ontem, hoje e amanhã. Deus tem o Eterno sem atemporal. Ainda que somente venhamos tomar conhecimento da resposta divina em determinado momento de nosso tempo, ele já tem respondido tudo, bem antes que nós lhe termos pedido. É possível que o problema não seja a falta de resposta de Deus, mas sim a nossa incapacidade de perceber a resposta dada. Eu escrevi em uma poesia que “os passarinhos nunca pararam de cantar; nós é que não paramos para ouvi-los”. É preciso calma, paciência e sensibilidade para ouvir a resposta de Deus. Nós podemos gritar por socorro, em nosso desespero, mas Ele sempre responderá mansamente. Assim é a Palavra: “E eis que passava o Senhor, como também um grande e forte vento que fendia os montes e quebrava as penhas diante do Senhor; porém o Senhor não estava no vento; e depois do vento um terremoto; também o Senhor não estava no terremoto; E depois do terremoto um fogo; porém também o Senhor não estava no fogo; e depois do fogo uma voz mansa e delicada”, 1 Reis 19:11,12.

A resposta da nossa oração já pode ter sido dada a conhecer há muito tempo. Mas nós, imediatistas que somos, queremos uma resposta contemporânea e presente, uma resposta de agora. E assim, não buscamos tomar conhecimento se a resposta já veio ou se ainda temos que esperar.

Quando os discípulos de João Batista vieram perguntar a Jesus se Ele era o Cristo que haveria de vir ou se deveriam esperar outro, o senhor disse-lhes: “Ide, e anunciai a João as coisas que ouvis e vedes: Os cegos veem, e os coxos andam; os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho. E bem-aventurado é aquele que não se escandalizar em mim”, Mateus 11:4-6.

Antes de nos irarmos e revoltarmos contra Deus, devemos buscar saber se a resposta ao nosso clamor ainda não foi dada ou se ainda temos que esperar mais algum tempo para que ela aconteça. Vamos exemplificar com os pedidos que mais afligem as pessoas nos cultos de oração, que são os referentes aos problemas de saúde. São inúmeros os pedidos de oração em prol da cura de nossas enfermidades. No entanto, sabe-se que o homem já redescobriu o conhecimento divino de como diagnosticar e curar uma enorme quantidade de enfermidades. Então, antes de pedir pela cura de um mal, busque saber se a resposta para a cura desse mal já não foi encontrada pelo homem, porque Deus já providenciou a cura para todos os nossos males físicos e espirituais. O que nos resta é encontrar a resposta de Deus, que nunca deixou de responder, ainda que a resposta não seja ao nosso gosto e prazer. Devemos ser pacientes. Assim é a Palavra: “Sede pois, irmãos, pacientes até à vinda do Senhor. Eis que o lavrador espera o precioso fruto da terra, aguardando-o com paciência, até que receba a chuva temporã e serôdia”, Tiago 5:7.

A vida vai se tornando mais longa e melhor, na medida em que o tempo vai passando, em virtude das novas descobertas. Se todo o conhecimento viesse de uma vez só, provavelmente, nós morreríamos sufocados, como aconteceu com os recém-criados Adão e Eva. É preciso estar pronto para receber a resposta de Deus. Mas, sempre poderemos proclamar a Ele os nossos agradecimentos pelas respostas que sabemos ter recebido, ainda que não as conhecemos plenamente. Vejamos um exemplo: Em 1822, quando foi proclamada a independência do Brasil por Dom Pedro I, a expectativa de vida das pessoas era de 25 anos de idade. Hoje a população que chegou aos 50 anos tem pela frente a expectativa de, pelo menos, mais um terço de vida, ou seja, a vida média ultrapassa os 75 anos de idade. Naquela época, o homem desconhecia como diagnosticar e tratar da maior parte das enfermidades e, simplesmente morria sem saber o que fazer. As pessoas dependiam muito mais do que nós, hoje, de respostas milagrosas de última hora da parte de Deus. Mas, nem por isso, foram tratadas de forma diferente daquela que Deus nos trata em nossos dias. Muitos morreram para que aprendêssemos a lição de vida.

Vamos particularizar um exemplo.

A COVID-19 é uma doença infecciosa causada pelo vírus SARS-CoV-2, que pode ser transmitido de pessoa para pessoa por meio da inalação de gotículas de secreções respiratórias que podem ficar suspensas no ar quando a pessoa contaminada por esse vírus tosse ou espirra. E, só no Brasil, já tivemos 34,5 milhões de casos registrados e 684 mil mortes. É fato que demoramos para redescobrir o conhecimento divino sobre como produzir a vacina para prevenir a enfermidade, mas já se sabia que a melhor maneira de evitar a disseminação da doença era o isolamento. No entanto, as autoridades brasileiras demoraram para determinar providências nesse sentido. Hoje, já temos a vacina preventiva, mas ainda temos milhares de pessoas que se recusam a tomá-la e preferem recorrer às orações a Deus. E aí, decepcionam-se quando não conseguem ouvir a resposta de Deus que já foi dada: isole-se e vacine-se! E como não conseguem ouvir a voz divina que ecoa por todo lado, exalta-se em dizer que Deus não ouviu o seu clamor, além de outras barbaridades.

Assim diz a Bíblia: Do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, que detêm a verdade em injustiça. Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis; Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. Romanos 1:18-22 .

É de ver que Deus não é nosso empregado. Ele nos fala de muitas maneiras, mas, nem sempre fala do jeito e por meio de quem nós queremos ouvir. “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo”. Hebreus 1:1,2.

Deus tem levantado médicos aos milhares para pesquisar em Seus Manuais de Conhecimento (como a Natureza, por exemplo) e, assim, aprender a diagnosticar e curar as enfermidades de seu povo. E, cada vez que alguém lhe pede a cura direta e milagrosa, ele responde pela boca do profeta Jeremias: “Estou quebrantado pela ferida da filha do meu povo; ando de luto; o espanto se apoderou de mim. Porventura não há bálsamo em Gileade? Ou não há lá médico? Por que, pois, não se realizou a cura da filha do meu povo?” Jeremias 8:21,22.

Meus queridos, o problema em relação a essa discussão que fazemos, não está em Deus, está em nós. Além de não ver, ouvir e aceitar a resposta de Deus, nós ainda queremos julgá-lo porque não nos atende do jeito que nós queremos. Tenhamos muito cuidado com o que falamos. Deus não nos resgatou do Egito para nos fazer morrer nos desertos. Ele é o Deus da vida e o seu prazer é que nós vivamos, sejamos felizes e felizes por toda a eternidade.

E Jeremias continua a dizer aos exaltados: “Assim diz o Senhor: Porventura cairão e não se tornarão a levantar? Desviar-se-ão, e não voltarão? Por que, pois, se desvia este povo de Jerusalém com uma apostasia tão contínua? Persiste no engano, não quer voltar. Eu escutei e ouvi; não falam o que é reto, ninguém há que se arrependa da sua maldade, dizendo: Que fiz eu? Cada um se desvia na sua carreira, como um cavalo que arremete com ímpeto na batalha. Até a cegonha no céu conhece os seus tempos determinados; e a rola, e o grou e a andorinha observam o tempo da sua arribação; mas o meu povo não conhece o juízo do Senhor”. Jeremias 8:4-7.

É preciso crer que Deus está falando conosco o tempo todo. E muito mais de forma indireta do que direta. E sobre isso, já disse Jesus: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”, Mateus 11:15.

Antes de dizer que Deus não respondeu à nossa oração, respondamos: eu fiz o que me cabia fazer? Eu fiz o que podia fazer? Ou eu apenas fiquei de braços cruzados esperando o milagre de Deus acontecer? É preciso que façamos a nossa parte.

O missionário Zigomar de Oliveira Silva, nosso irmão querido, escreveu em 2015, um livro incrível intitulado “Deus não faz o que podemos fazer”. Todos nós deveríamos ler esse excelente livro. Pode ser que, ao lê-lo, nossas dúvidas sobre a resposta de Deus às nossas orações venham a ser respondidas em sua totalidade.

Por hoje é só. Que o Senhor nos abençoe e nos guarde, que levante o seu rosto sobre nós e nos dê a paz! Amém!